quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cheiro de goiaba.

Fonte: Internet

Já viajavam há umas três horas e segundo o tio ainda faltava ao menos uma hora de estrada. Claudia adorava passear com seus tios, principalmente tia Rosa. Ás vezes, mas só às vezes, ela desejava que essa tia fosse sua mãe. Havia uma relação de cumplicidade entre as duas. Contava para a tia coisas que não contaria a ninguém.
-“Nossa era mais longe do que eu me lembrava! Será que Estela estará lá?” Estela era uma menina na faixa dos doze ou treze anos como ela, e também podia chamar tia Rosa de tia. Era ‘sobrinha de sangue’ como ela mesma fazia questão de enfatizar. –“Droga!” Pensou torcendo o bico. Neste fim de semana Claudia planejava ter a tia só para ela.
Estava completamente distraída quando seus pensamentos foram interrompidos por um grito ardido. Ao seu lado no banco de trás do carro viajavam seus dois primos menores. As duas crianças já demonstravam cansaço pelo longo tempo de viagem irritando-se mutuamente. Em sinal de protesto, o bebê havia se agarrado com vontade a cabeleira crespa do irmão irritante. O pequeno que não tinha mais que um aninho seguia atado à cadeirinha e se contorcia a um bom tempo tentando sem sucesso, livrar-se das investidas do irmão maior.
Apesar de toda sua força e ira o pequeno não conseguiu mais do que deflagrar belas risadas o que ele entendeu como sinal de aprovação. A partir de então arrancar cabelos seria seu novo e maior propósito, não importando quem fosse o dono da peruca escolhida. Com o tempo e infelizmente com treino constante, o pequeno viria a se tornar um grande escalpelador. Claudia ainda não sabia que se tornaria uma de suas vítimas prediletas.
Estavam quase chegando. A cidade apesar de pequena era bonita e próspera. Não havia edifícios como em São Paulo e também não se parecia em nada com a cidadezinha onde morava sua avó paterna. Lá, ainda existiam sítios e chácaras, charretes e vendinhas de uma porta só com engraçados estacionamentos para cavalos. Lá, as pessoas pareciam estar sempre dentro de uma pintura, movendo-se e falando em câmera lenta.
-“Qualquer cidade é uma metrópole se comparada a Juquiá!” Analisou observando as casas e as ruas distribuídas geometricamente em quarteirões: - “Por que será que em São Paulo os quarteirões não eram quadrados, mas triangulares, ovais e disformes?”
Concluiu que em São Paulo era realmente fácil se perder. Lembrou-se do pai que adorava ‘pegar um atalho’ e quase sempre a tentativa acabava em confusão. Eles ficavam perdidos andando em círculos ao som dos resmungos da mãe.
Neste momento, o tio estacionava em frente à casa da mãe de tia Rosa e anunciou a chegada com o dedo enfiado na buzina. Foram recebidos pela família com beijos, abraços e sorrisos.
Percebendo a presença de Claudia D. Clotilde, mãe de tia Rosa disparou: -“Ah! Que bom! Vocês trouxeram a Claudinha! Nossa menina você está comprida!” e cochichou em seu ouvido, provavelmente não tão baixo como ela imaginou: -“Já ficou mocinha? -” Não!” Respondeu Claudia corando e rezando para que ninguém mais tivesse ouvido. – “Que coisa mais chata! Parece minha mãe!”Claudia queria um buraco para se esconder. - “O que acontece com as pessoas depois que elas ficam velhas? Pensou enquanto Estela que ria da situação constrangedora lhe puxava pelo braço.
– “Vem vamos lá pros fundos.” Claudia ficou feliz por sair daquela situação. Bem, talvez Estela merecesse ser recompensada com um pouquinho de tia. Mas só um pouquinho...
Estela era o que Claudia considerava uma menina bonita, cheia de si e que agia de um jeito firme, o que com certeza a deixava mais bonita ainda. Claudia correu atrás da menina que seguia balançando longos cabelos loiros. Fugiram correndo dos adultos que não sabem ficar calados.
Ainda no corredor Claudia avistou o quintal. Estava como ela se lembrava. A casa era simples, muito simples, mas agradável e aconchegante.
Havia um pequeno gramado cercado por muitas flores, algumas ela conhecia: Margaridas, Rosas, Cravos e um canteiro grande de Onze horas se derramando por sobre a grama. As Onze horas eram suas preferidas. Claudia não entendia o que fazia essas pequenas florzinhas abrirem perto da metade do dia. Mas acontecia, e por incrível que pareça, elas não erravam nunca. Parecia mágica.
As flores, rosa bem forte, eram lindas e pareciam estar em festa.  -“Quando voltar peço a mamãe para plantar Onze horas no nosso jardim, talvez D. Clotilde não se incomode em dar uma mudinha.”
No quintal havia ainda várias árvores frutíferas que a tia da outra vez fez questão de mostrar e dizer o nome delas, Claudia não se lembrava de todas, mas algumas ela sabia sim até porque, também tinha pomar na casa de sua avó em Juquiá.
Pé de ameixa, abacateiro, figo, mangueira, jabuticabeira... -“Que pena que não tem jabuticaba!” Pensou Claudia procurando aquelas bolinhas pretas e doces pelo tronco da árvore. –“Ah! que bom! A goiabeira tá carregadinha! – “Será que vão achar que eu estou muito grande para subir no pé?  Agora tá um tal de dizer: -Você tá grande pra isso, tá grande prá aquilo. E tem um monte de coisas que eu quero e me dizem: - “Você ainda não tem tamanho pra isso não menina! Você ainda precisa comer muito feijão antes de pensar que já pode usar esse tipo de roupa, falar desse jeito, ler esse livro, assistir esse filme”...
Será que demora muito pras coisas ficarem mais claras ou os adultos se acertarem com o que pode e não pode? Claudia percebia que os limites variavam de família para família e até mesmo entre o pai e a mãe. Naquele momento o que ela queria mesmo, era saber se podia subir no pé de goiaba e comer a vontade sem que ninguém viesse brigar com ela. De mais a mais chatear sua tia não estava nos seus planos.
Claudia virou-se para Estela e disparou: -“O pé de goiaba tá carregadinho será que sua avó acharia ruim se agente subisse nele? A resposta de Estela foi no mínimo inesperada: - “Ai não... Eu não quero subir não, isso é coisa de criança!  
Estela estava mesmo com um ar diferente demonstrando deliberadamente que já era mocinha e que subir em árvores não estava em seus planos. Lançou um olhar de reprovação, quase de desprezo sobre Claudia como se a pequena diferença de idade entre as duas, Claudia era mais velha, tornasse o ato de subir em árvores o mais completo absurdo.
Claudia irritou-se– “Subir em árvore é gostoso e meu pai ainda sobe tá?” Alfinetou. “Quem disse que subir em árvore é coisa de criança? Ihhh! Que será que deu nela? Bem que eu sabia. Essa menina é uma chata mesmo, não mudou nada! Quem ela pensa que é?”
Tia Rosa da varanda anunciou o almoço e sugeriu que Claudia, Estela e os primos almoçassem juntos na mesa da varanda.  Durante o almoço Estela mantendo ares de adulta olhava fixamente para Claudia. Confessou que tinha um segredo para contar e pediu a ela que jurasse não contar a ninguém. E foi enfática–“Jure pela alma da sua mãe mortinha! Proferiu Estela. – “Tá bom eu juro.” Disse Claudia, e jurou porque achou que se não jurasse a menina não contaria e ela já estava curiosa demais.
Findo o almoço sentaram-se na frente da casa para conversar, realmente Estela estava cheia de histórias e todas repletas de façanhas com meninos...  –“Ai meu Deus que doida! Se a mãe dela descobre! Será que ela não tem medo?” Claudia descobria com desconforto e inveja que Estela possuía a coragem e a ousadia que ela com certeza não tinha.
Andava de namorico com os meninos de sua escola e, segundo ela, já havia beijado. – “Meus Deus e a mãe dela nem sonha! Será que era verdade?” Todas as meninas de sua idade sonhavam com o primeiro beijo e com Claudia não era diferente! -“Essa menina sempre foi metida e agora deve tá inventando só pra me impressionar”.
Claudia era uma menina simples e tímida também. Não se sentia nada a vontade na frente dos meninos, era insegura e se achava feia. Acreditava lá em seu íntimo que morreria solteira porque nenhum menino nunca se interessaria por ela. E já que era assim os observava a distância. De preferência uma longa distância.
Estela apesar de mais nova era mais esperta, menos superprotegida e já havia percebido que suas proezas estavam causando um forte impacto em Claudia que ouvia os detalhes com cara de espanto e interesse.
Claudia segurava nas mãos um anelzinho que Estela jurava ter ganhado do namoradinho da escola quando foram surpreendidas pelo quicar de uma bola dentro do quintal. Quicou e foi parar juntinho dos pés de Claudia que nem sequer se mexeu enquanto a bola parava ao seu lado.
Correndo atrás da bola surgiu um menino de mais ou menos quatorze anos. Estava suado da correria de um jogo que pelos gritos que podiam ouvir de onde elas estavam era bastante disputado. Para Claudia a presença inesperada daquele menino foi desconcertante, já que meninos eram o tema da conversa. Sentiu seu rosto corar e sem graça nem se mexeu para pegar a bola que lhe batera nos pés. Apenas sorriu para o garoto.
Estela, entretanto nem se abalou, levantou-se tranquilamente e mais rápido que Claudia percebesse já estava em pé ao lado do portão e sorrindo entregava a bola ao garoto. O menino por sua vez sorriu com um ar maroto e foi embora batendo a bola no chão. - “Que bom que já foi. Pensou Claudia, meio chateada por não ter tido tempo de pegar a bola e entregá-la ao garoto. Como eu sou boba! Se fosse eu, era capaz de tropeçar e cair com bola e tudo. Como eu sou idiota”!
Quando o garoto saiu de suas vistas Estela, voltou andando para a varanda na direção de Claudia rindo e balançando os dedos em sinal de perigo. Batia freneticamente o dedo indicador nos dedos polegar e médio, que se encontravam unidos. Rindo maliciosamente perguntou: – “Você viu que lindo? E tem o olho azul! Claudia riu e fingiu concordar com Estela para não parecer infantil, mas intimamente ela pensou. – “Grande coisa que tenha o olho azul nem ligo! Até parece que a cor dos olhos quer dizer alguma coisa.”
- “Toma, pegue o seu anel” disse Claudia devolvendo-lhe o suposto presente.
Menos de um minuto depois, para surpresa das duas, e desespero de Claudia, o menino voltou. –“Estamos jogando vôlei... Vocês querem jogar também? Bem, primeiro oi né? Meu nome é Carlos Eduardo, que falta de educação a minha, nem me apresentei! E vocês como se chamam?
Estela mais que rapidamente e com um sorriso maior que o rosto adiantou-se apresentando a si mesma, e também à Claudia como sendo sua prima de São Paulo.  O garoto então se dirigiu a Claudia que continuava sentada dizendo –“De São Paulo é? Por isso nunca te vi por aqui.” Mas de você acho que me lembro... Só que menorzinha”. Carlos  Eduardo dirigia-se a Estela, mas ainda mantinha os olhos em Claudia que sorrindo timidamente informou: -“Já faz tempo que eu estive aqui, mas não é a primeira vez que venho”. O menino concluiu a conversa dizendo: – “Me mudei novamente para cá faz pouco tempo, não tem um mês, vai ver é isso. Mas e aí vamos jogar?”
Estela respondeu já ultrapassando o limite do portão. - “Vamos sim”! E Claudia lembrou: -“Bom, então Estela, vai indo que eu aviso tia Rosa e vou em seguida”. - “A gente te espera! Disse o garoto. Claudia voltou-se estranhando a gentileza e disse. – “Não precisa, eu vou em seguida! Vai ser rápido, podem ir.
Claudia corria pelo corredor imaginando o que poderia fazer para não ter que atravessar aquele portão. O que ela poderia fazer para não ir. Entrou em casa, foi ao banheiro. Lavou o rosto e olhou-se no espelho arrependendo-se de te saído de casa do conforto de seus livros e do seu quarto. A salvação seria tia Rosa dizer que não era recomendado que as duas fossem brincar com estranhos...
Após comunicar a tia sobre o convite, Claudia voltava a passos lentos pelo corredor pensando: - “Bom então tá né?” –“Puxa como tia Rosa é boazinha, conhece muito bem o menino e ainda por cima gosta dele.” Edu era como tia Rosa o chamava. – “Ah que bom o Edu está aí, já voltou com a família! Que coisa boa não é mãe?” Dirigindo-se a D. Clotilde. Que da pia onde passava café abanou a cabeça afirmativamente.  - “Lógico que vocês podem ir lá brincar.” A tia achou o máximo que as duas fossem a casa dele. E ainda recomendou que ele dissesse a ele que fosse vê-la antes de voltarem a São Paulo.
Claudia estava absorta em seus pensamentos e estava quase no portão da casa do menino quando deu de cara com Estela. – “Credo que demora! Já ia te buscar! Olha você entra naquele time.” Mandou Estela.
Sem alternativa Claudia colocou-se no time determinado e não deixou de notar que Estela estava no time de Edu. – “Que menina oferecida. Ainda bem que eu não sou assim, no fim das contas ele deve estar rindo dela. É assim que os meninos fazem, dão corda e depois quando estão sozinhos morrem de rir das meninas oferecidas. Comigo ninguém vai fazer isso.”
Muitos passes, saques, cortadas e principalmente, muitos pontos depois Claudia já nem se lembrava da sensação de medo que sentira ao entrar ali. Estava se divertindo muito, pois seu time estava dando um banho nos adversários. Ela podia não ser boa nessa coisa de meninos, mas de brincar ela entendia e soltou-se. No grupo como um todo havia algumas garotas da vizinhança e pelo menos mais dois meninos que com certeza não tinham a beleza nem a graça de Carlos Eduardo.  
Mais alegre e mais confiante já que muitos dos pontos de seu time foram marcados por ela, Claudia já não se intimidava quando Edu sacava a bola com tudo pra cima dela. Quanto mais ela acertava um movimento mais ele vibrava e gritava: -“BOA!!” Como se fossem do mesmo time. Também não pode deixar de notar que aquele menino, bonito de fato, e a quem Estela estava fazendo tudo para chamar a atenção, na verdade não tirava os olhos dela.
- “Por que ele está fazendo isso? Será que quer tirar onda com a minha cara? A Estela tá fazendo papel de idiota, mas eu não sou idiota. Ninguém vai me fazer de boba!” – “Deixa ele...” Aos poucos sem que Claudia percebesse a coisa mais interessante do jogo era provocar Eduardo cavando pontos em cima dele.
O tempo passou muito mais rápido que o previsto e Claudia já achava que este era um dos melhores finais de semana de sua vida. Já escurecera e o jogo chegava ao fim com uma vitória esmagadora do time de Claudia.
Sentaram-se todos para descansar e beber água. Já iam despedir-se quando alguém teve a idéia de brincar de esconde-esconde. Estela que não conseguira impressionar o menino e ainda por cima tinha perdido o jogo, não demonstrou muito entusiasmo como convite. Mas Edu foi veemente e insistiu. Enfim todos aceitaram.
Claudia argumentou que não conhecia o lugar como os outros e teria dificuldades para encontrar bons esconderijos e assim seria prejudicada. Houve uma tremenda algazarra para dizer que sua desculpa era esfarrapada e que, portanto deveria brincar assim mesmo.
Edu interveio dizendo: - “Nas duas primeiras rodadas você fica comigo e a gente se esconde juntos, eu te mostro os lugares e depois você se esconde sozinha tá bem? Surpresa com a proposta e feliz de ver a cara de espanto de Estela, Claudia aceitou. Estava achando aquele menino diferente dos outros e ele a tratava de um jeito diferente também.
Ver a cara de Estela quando Edu falou aquilo foi delicioso. Ela não estava fazendo nenhum esforço e aquele menino demonstrou desde o começo sua preferência por ela. O ego de Claudia estava sendo acariciado. Aconteceram uns risinhos maliciosos também. Mas Claudia fez questão de desconsiderá-los. Ela estava feliz, nunca se sentira cortejada tão acintosamente em sua vida. As atitudes de Edu não deixavam dúvidas: ele havia gostado dela. – “Talvez ele me ache bonita.” Sorriu para Edu com uma segurança que não sabia possuir.
Amanda uma menina que morava por ali foi sorteada para ser a primeira a bater cara, e o pique seria o muro da casa em frente a de D. Clotilde. Toda a rua era considerada como local permitido para esconderijos, não importava se era área interna ou externa, seriam permitidos todos os quintais que conseguissem entrar.
-“Nossa como é gostoso morar no interior” Pensou Claudia surpresa com tamanha liberdade.
Um, dois, três e correria geral... Cada um para um lado. Eduardo puxou Claudia e correram juntos de mãos dadas. Naquela hora ela o achou ainda mais lindo. Seu cabelo bem loirinho e há muito precisando de corte já lhe batia na testa escondendo os olhos. Quando acontecia ele fazia um movimento rápido jogando todo o cabelo para trás.
Ele sabia trilhas e as utilizou para despistar os outros. Foram pela frente da casa entraram por um terreno baldio deram uma volta enorme. Agachando-se e se esgueirando pelos cantos. – “O que será que ele pretende?” Fosse o que fosse Claudia iria com ele.  Pularam o muro que separava o quintal de D. Clotilde daquele terreno baldio. Claudia nem sabia como tinham chegado até lá. Naquele momento gelou. – “Aqui não! Minha tia pode achar ruim! Falou baixinho – “Deixa de ser boba” disse Edu. - “A gente sempre se esconde por todos os quintais e ninguém liga. Vem, vem logo!” Claudia se deixou conduzir.
Foram para os fundos do quintal e Eduardo ia diretamente para a goiabeira. Ele nem perguntou se ela conseguiria subir era como se tivesse certeza que sim. Subiram o mais alto que puderam. Eduardo olhando para ela disse com um sorriso maroto: - “ Não vão achar a gente aqui tão cedo. Vão cansar de procurar!” Pudera! A copa da goiabeira estava envolta pela copa da mangueira de um lado e do abacateiro pelo outro. Provavelmente se olhassem para o alto ainda assim não os veriam.
Que menino era aquele? Gostava de brincar, subia em árvore e ainda levava ela junto. Era tudo muito confuso sentia-se atraída pelo menino e mesmo assim não se sentia infantil por saber subir em árvores. De alguma forma ele parecia gostar que ela fosse moleca. Desde o jogo ele demonstrou isso. Claudia percebeu que com Edu ela não precisava fingir ser quem não era. Ele era diferente dos meninos que ela conhecia. E ela provavelmente era diferente das meninas que ele conhecia. “Poderiam ser os melhores amigos”. Pensando assim, Claudia subiu na árvore com a rapidez de um menino.
No fundo sabia que ele havia usado de um subterfúgio para ficarem sozinhos. Claudia estava confusa e feliz.
Ficaram em silencio quando viram um grupinho que já havia sido encontrado passando ao longo do muro provavelmente procurando por eles. Eduardo colocou-se em sua frente e num gesto rápido lhe tapou a boca com a mão. Ao fazer isso seus corpos ficaram tão próximos que ela pode sentir não só sua respiração, mas também as batidas do coração de Eduardo bem junto do seu. Sentia o cheiro dele se misturando ao cheiro das goiabas que perfumavam o ar.
Claudia ficou congelada, parecia que o mundo inteiro tinha parado. Não saberia explicar o que estava sentindo. Queria que o tempo parasse. Não havia mais tia, nem Estela nem todos os meninos e meninas chatas de sua escola. Não havia pai nem mãe. Havia apenas aquele menino respirando quase em cima dela. Tão perto que ela via sua imagem nos olhos dele. Claudia pode sentir o cheiro de seu hálito e ver que os olhos de Eduardo procuravam sua boca e seus olhos como se lhe pedindo permissão.
Ninguém precisou explicar o que ele queria e Claudia suavemente empurrou Eduardo dizendo: - “ Não... não”.  Havia sido tudo muito rápido. Claudia não estava pronta e Eduardo gentilmente afastou-se e sorrindo disse: - “Espera”. E num estalo deu-lhe uma ‘bitoca’ roubada. Rindo, subiu como um gato mais alguns galhos e voltou com uma enorme goiaba não muito madura, daquelas no ponto para se comer sem medo dos bichinhos.
Dando uma mordida gostosa Edu colocou a goiaba na boca de Claudia e esperou que ela desse uma bela mordida. Foi um gesto meigo. Dividiram a goiaba até o fim. A goiaba fez as vezes daquele beijo não dado.
Comeram com gosto muitas goiabas e também riram muito dos outros que passaram muitas vezes de um lado para o outro sem olhar para cima. Ficaram amigos pra sempre, daqueles que são íntimos e cúmplices. Eles não sabiam ainda, mas um dia seriam namorados também.
Claudia desceu daquela goiabeira mais contente com sua idade. Sabendo que ela tinha a liberdade para escolher quando seria hora para beijos. Estava certa que agora ainda era hora de brincar e subir em árvores, independente do que pensavam pessoas como Estela ou quem quer que fosse.
Naquele final de semana ela aprendeu que existem pessoas que sobem em árvores pra sempre!  Se tiverem vontade até ficarem velhinhos como seu pai. Ou, até quando seus corpos permitirem.

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